O poder competitivo do ESG em prol de uma Saúde mais sustentável
Avança no setor iniciativas de governança ambiental, social e corporativa que estão impactando positivamente na sustentabilidade, na eficiência e na visibilidade de muitos negócios
Promover o bem-estar social, proteger o meio ambiente e fazer parcerias com transparência. Esses e muitos outros propósitos inerentes à agenda ESG (sigla para a tradução de governança ambiental, social e corporativa) estão se consolidando progressivamente como uma forma de criar negócios sustentáveis. Longe de ser uma moda passageira, as práticas ESG se tornaram um diferencial competitivo, pois refletem demandas da sociedade e do mercado por respostas corporativas aos desafios que o planeta vem enfrentando.
A Saúde, naturalmente, não se exime de fazer sua parte, ainda que já seja, por essência, uma área voltada ao pilar social. Com grandes ou pequenas iniciativas, o setor vem, aos poucos, entendendo a importância de absorver as boas práticas de ESG no dia a dia das organizações com vistas a aprimorar a tão falada e necessária governança ambiental, social e corporativa.
Multiplicam-se pelo País ações e projetos que estão trazendo excelentes resultados para as empresas do setor e também para seus públicos, como clientes, fornecedores e funcionários, além, logicamente, de gerarem impacto positivo em toda a sociedade. Conheça três bons exemplos.
Boleto sustentável
A Allcare Gestora de Saúde já vem há algum tempo realizando diversas práticas em benefício da sociedade. E aposta na parceria com outras empresas com a mesma filosofia de ESG para desenvolver suas ações.
“Um de nossos parceiros — a empresa que faz a cobrança das mensalidades do plano de saúde, criou um projeto que teve um grande impacto nos nossos negócios, a partir do conceito de paperless. Com mais de 300 mil beneficiários, todo mês era necessária a emissão de mais de 300 mil boletos de cobrança, o que era um trabalho e um gasto em papel imensos”, revela Farias Souza, CEO da Allcare. Depois de tentar diversas vezes mudar a forma de pagamento para boleto digital ou débito em conta bancária – com uma adesão mínima dos clientes –, a empresa veio com uma proposta simples e efetiva: o Boleto Sustentável. Pelo site, a empresa convida o segurado a aderir ao boleto digital e converte sua participação em plantação de árvores na Serra da Canastra (MG), ação feita em parceria com o Projeto Plantar. Essa ação visa colaborar com o objetivo da Allcare de se tornar uma empresa carbono zero.
Rebatizar o boleto foi uma iniciativa bem sucedida.
“A adesão à proposta chegou a um patamar de 70% a 80%, o que representou uma economia enorme em gastos nas emissões de boletos. Ainda contribuiu com a preservação da natureza, evitando a derrubada de árvores que seriam usadas na fabricação do papel. Descobrimos, também, que com ideias simples, as práticas ESG podem ter uma boa aceitação por parte da sociedade. Foi só acrescentar a palavra ‘Sustentável’ e a mágica se deu: a adesão foi enorme”, finaliza Farias Souza.
Os exemplos do Nove de Julho
Devido à alta demanda no uso de materiais de proteção da equipe hospitalar, a direção do Hospital Nove de Julho, de São Paulo, em março de 2020, resolveu trocar os aventais descartáveis por opções com hidro-repelência, alternativa que pode ser lavada e reutilizada até 50 vezes. Com essa simples troca, um ano depois, a organização atingiu a marca de 1,2 milhão de aventais descartáveis economizados pela equipe de enfermagem, e, de quebra, evitou o descarte de 60 mil sacos de lixo de 100 litros no meio ambiente.
Para Bruno Alves Pinto, diretor geral do Hospital Nove de Julho, antes de discutir qualquer projeto de longo prazo de novas práticas relacionadas ao ESG, é fundamental fazer um diagnóstico situacional, conhecendo bem a estrutura de governança, analisando contratos com fornecedores, entre outras ações, e depois focar, principalmente, nos procedimentos que deram resultado mais rápido.
“Em uma dessas análises, percebemos que o Hospital Nove de Julho não tinha nenhuma diretora mulher. A providência imediata foi formar uma tríade de diretoras para setores médico, operacional e de assistência. O resultado não poderia ter sido melhor. As três talentosas diretoras contribuíram muito para a transformação da agenda ESG da empresa, com resultados excelentes e rápidos”.
Outra transformação importante aconteceu depois da consulta ao clima organizacional, uma ferramenta apropriada para entender melhor as mudanças que deveriam ser feitas do ponto de vista social. “Percebemos que nos hospitais privados existia uma grande falta de médicos e médicas negras. Atualmente, 80% dos profissionais negros trabalham em empregos públicos, onde o acesso é mais fácil. Ao conhecer melhor a trajetória que esses profissionais negros trilharam até chegar à sua formação e à procura por uma residência, foi que percebemos que a contratação desses profissionais teria um impacto positivo não apenas para eles, mas para os familiares e amigos que acompanharam o caminho, nem sempre fácil, até chegar a oportunidade de mostrar do que eram realmente capazes”, conta Bruno. E ele completa: “A empresa que tem de forma legítima um propósito, acaba tendo um diferencial competitivo, que é a capacidade de atrair bons talentos.”
Reestruturações para alavancar o ESG
Há dois anos, os diretores do Grupo Fleury decidiram que a empresa precisava de maior relevância no que diz respeito às suas práticas ESG. Acima de tudo, queriam ir muito além do que viam no mercado. Como consequência dessas conversas, entraram em vigor duas decisões para conectar o ESG às suas estratégias de longo prazo.
Para isso, foi preciso tirar a diretoria de ESG do setor de Recursos Humanos e realocá-la no departamento de Estratégia de Inovações, que cuida diretamente dos projetos relevantes da organização. O segundo passo foi a criação de um Comitê ESG, com três pessoas externas, que não tinham relação de emprego com a instituição.
Essa estratégia trouxe inúmeras vantagens:
“A visão desse comitê, constituído por pessoas de fora do ambiente usual de trabalho, funcionou como um agente provocador, apontando para mudanças que muitas vezes escapam a quem está dentro da companhia. De tão envolvidos que ficamos com as tarefas cotidianas, não é difícil nos acomodarmos e deixarmos de perceber novas estratégias que um olhar de fora nos mostra com facilidade”, diz Márcio Pinheiro Mendes, diretor geral de Administração do grupo Fleury.
Um resultado positivo complementar dessa mudança foi mostrar que não basta a diretoria determinar novas práticas para que estas aconteçam. É preciso que o comitê de ESG faça a “tradução” dessas metas para que o pessoal que trabalha com a parte operacional compreenda realmente onde e de que forma pode ajudar a alcançá-las. “É necessário conhecer bem quem está na ponta, em contato direto com os clientes, para entender como estimular o funcionário para que dê sua melhor colaboração e que as novas metas propostas sejam realmente alcançadas”, diz Márcio.
O Fleury ganhou reconhecimento do mercado pelas suas diversas iniciativas dentro da agenda ESG. Uma delas, no âmbito social, foi a criação de um marketplace de Saúde, chamado Saúde iD, voltado aos segmentos C, D e E da população. O propósito da plataforma é conectar pessoas a profissionais e empresas de Saúde, oferecendo serviços com grande padrão de qualidade a um preço justo. *Conteúdo apurado no HIS 2022.